domingo, 24 de abril de 2011

Das folhas verdes que balançam no jardim...


Das folhas verdes que balançam no jardim,
Observo-lhes os sons e os cheiros que trazem discretamente.
Há odores inertes na grama,
Há sons escondidos nas sementes.
Deve-se esperar em silencio a ruptura daquilo que nascerá
Em estrondosos ruídos.

Ouço os passos apressados atrás dos muros,
Todos em completa desordem harmônica,
Sons grosseiros.
Há odores de sal e pó,
A fumaça dos motores ascende ao céu.
Carros rasgam o horizonte em cores transversas.

Os pássaros pousam na grama
Rasgando a terra com os bicos,
Nutrida de vermes que se escondem do sol.
Frias e viscosas.
Deleitam-se em vísceras acidas,
Papilas voadoras em pleno gemido.

Há um pouco de sangue num canto qualquer da casa,
E pedaços meus que deixei por lá,
Encontram-se imóveis e gelados.
Um copo de água na cabeceira
Caso eu acorde em desespero,
Ressequido de sonhos.

Há Lápis e folhas espalhadas por todos os cômodos,
Caso a angustia de pensamentos,
Faça-me vomitar em grafite,
Símbolos sonoros e gritantes,
Graves, como uma arvore em chamas,
Queimando de vagar,
Em pleno silêncio...

- Bruno Bueno Requena

domingo, 10 de abril de 2011

Gênesis


O tempo curva-se a linha mental que o suspiro de vida habita, talvez seja o simples fato de que o ato de respirar, mesmo que invasivo, seja necessário para que as necessidades de vida sejam efetivamente realizadas.
O que dizer daquilo que nos foge a explicação? Talvez nada. O ato de olhar por mais que efêmero seja o real fato ou a completa ilusão de ser, fazer parte e ser aquilo sem explicação, o momento que se explica, já não é mais aquilo que fôra um dia, torna-se irreal na linha de pensamento racional ou ilusório aos esquizofrênicos de sentimentalidades necessárias.
Tudo que é se é simplesmente sem ser aquilo que fôra, os momentos são mutáveis e deformam-se a todo instante. A vida traça seu tempo em espaços múltiplos, todos tornando-se passado para que o futuro venha a existir!
E se um dia qualquer defronte ao espelho a face refletida que me foi revelado tornar-se vã, solto ao léu em plena despreocupação de ser algo que se espera, e tudo ao redor tornar-se frouxo e distorcido, as paredes moles que sustentam a casa, os moveis incrivelmente tortos e cadeiras que lhe roubem o lugar, tudo que de veras sentia tornar-se vários, e a própria imensidão do ser fosse em pontos eqüidistantes algo interrupto e enérgico, todos os poemas que escrevi em pleno atrito com a folha aonde se fazia a arte da angustia ou da própria mudez de qualquer coisa sem som, ou gritos agudos dissonantes ao tilintar dos sinos da catedral que se encontra no centro da cidade, talvez os pombos resolvessem cagar nas cabeças dos caretas obrigando-lhes a lavar com água fresca, narrando-lhe a própria burrice que se cometeu. Eu me encararia, olhos nos olhos reversos, tudo em constante paralisia, mas em completa universalidade com a alma. Eu reveria todos os conceitos que me foram cabidos ou impostos sem nenhuma explicação ou síntese.
Talvez um dia desses, sentado a beira de um lago com águas calmas eu o faça ferver de idéias, e a qualquer momento, nu que sou, revoaria todas as cidades em plena novidade de exacerbação de algo que se é simplesmente sem saber ao certo o que.
Tudo sem nenhuma ou passada novidade, nada de previamente escrito ou esclarecido, tudo em plena criação, tudo  em pleno gozo de ser, o bel prazer dos deuses, e os pássaros procriariam em seus ninhos verdes em galhos marrons, e os ovos que lhe forem dados, chocassem em plena divindade de algo que rompe, algo que excede a qualquer conceito pronto, eu prefiro a inconstância qualquer que seja do que essa vida toda programada, toda robótica com defeitos, quanta velhice, eu me permito a mudança, eu quero que me vejam a mim, como um feto sempre em desenvolvimento, um embrião fecundado pela natureza, eu nadando em pleno útero do universo esperando a fecundação estelar, assim ao parir, tudo estará renascido, em pleno seio do que se deve ser. Sem rótulos, sem explicações, somente sendo, é este meu destino...
- Bruno Bueno Requena